quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Culpa

“... você me diz que seus pais não lhe entendem, mas você não entende seus pais...” (Renato Russo – Pais e Filhos)



“... I´m sorry for blaming you for everything I just couldn´t do, and I´ve hurt meyself by hurting you ...” (Christina Aguilera – Hurt)


Já sentiu alguma vez como se você fosse uma decepção? Eu tenho me sentido assim. Sinto um aperto imenso no meu peito, uma dor realmente grande, uma culpa por decepcionar meus pais.
Quando resolvi mudar minha vida, pode parecer que o fiz do dia para a noite, mas não foi bem assim. Na minha religião, em especial na minha família, somos ensinados que sempre diante de uma decisão devemos nos silenciar e ouvir a nossa voz interior. Durante quatro anos eu me silenciei e sabe o que descobri? Que é muito difícil ouvi-la, identificá-la em meio a tantas vozes que trazemos dentro de nós. Durante todo esse tempo eu busquei ponderar as coisas, pois sempre soube estarem em jogo muitas expectativas. Eu tomei minha decisão e mudei minha vida. Não sem antes ouvir o apelo desesperado de minha mãe.
Fico pensando: quando a gente nasce, nossos pais diante daquele pequeno ser, indefeso, carente, juram defendê-lo de tudo e de todos, de lhe dar uma vida muito melhor do que a que tiveram. Durante toda a nossa infância, eles fazem planos para nosso futuro, sonham com o que seremos e o que teremos. E crescemos, conhecemos o mundo e, um dia, decidimos que já somos donos do próprio nariz e, por assim o sermos, tomamos nossas próprias decisões.
Quando decidi que administração não era para mim, vi nos olhos dos meus pais a dor de um sonho desfeito. E é essa dor que eu carrego em mim. Meu peito aperta a cada tentativa deles de me apoiarem, como comentar sobre um programa só com arquitetos que eu perdi, quando na verdade eles preferiam discutir sobre o mercado de seguros. A empresa que eles com tanto esforço construíram, não terá herdeiros. Nenhum dos filhos se interessou pela continuidade dos negócios. Imagino que meu pai deve sentir que não reconhecemos o esforço dele.
Pergunto-me se é isso mesmo que eu quero. Será que estou no caminho certo? Compensa deixar tristes as pessoas que mais me amam no mundo?
Eu queria pedir perdão a eles por decepcioná-los, por não ser capaz de realizar os sonhos que eles sonharam pra mim, por não ser a filha perfeita que eles mereciam, por ser egoísta. Eu compreendo o medo que os cerca, pois é esse mesmo medo que me assombra todas as noites quando se apagam todas as luzes e eu fico sozinha comigo mesma.

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