terça-feira, 30 de janeiro de 2007
Sobre o ódio
Odeio essa ansiedade que toma conta de cada cantinho do meu corpo. Odeio a adrenalina lançada no meu sangue, que deixa meu coração acelerado, o estômago nauseado. Odeio a falta de sono à noite, odeio seu excesso pela manhã. Odeio não conseguir conversar sem chorar. Odeio chorar e não conseguir falar tudo que eu quero. Odeio ter que me despedir. Odeio finais, odeio começos, odeio mudanças repentinas ou graduais. Odeio ficar fora do meu eixo de rotação. Odeio cometer uma loucura atrás da outra e acordar no dia seguinte pensando o quanto era mais feliz quietinha e calada. Odeio as incertezas da vida, o desconhecimento do futuro, a inconsistência das palavras, a volatilidade dos sentimentos. Odeio estar cheia de perguntas e nenhuma resposta. Odeio achar que encontrei a solução e me deparar com novos problemas. Odeio a falta que o passado me faz e a vontade que o futuro não chegue. Odeio minha falta de paciência, o meu imediatismo e as pessoas me pedindo calma. Odeio não saber o que eu quero e odeio não saber o que fazer quando sei o que quero. Odeio minhas confusões, meus grilos, minhas neuras. Odeio perder o juízo e odeio que me peçam para ter juízo. Odeio a faculdade e a falta que ela já me faz. Odeio ter tanta coisa pra dizer e quase ninguém disposto a ouvir. Odeio não ser levada a sério, não ser compreendida, ser ignorada. Odeio dizer a coisa errada, na hora errada, para a pessoa errada. Odeio querer ser direta e acabar sendo ainda mais vaga, me perdendo em meio às minhas indiretas. Odeio tentar acertar e errar, odeio acertar quando só queria errar. Odeio querer ter razão sempre, essa minha teimosia que não me leva a lugar algum. Odeio ter tantos medos e parecer uma garotinha indefesa. Odeio tentar parecer forte, esconder o que sinto e parecer fria e distante. Odeio essa armadura com a qual me visto diariamente para não me ferir, ela pesa em meus ombros e me afasta das pessoas. Odeio esteriótipos, comparações, pré-conceitos, julgamentos. Odeio a vontade que tenho de evaporar e a necessidade que me vejam. Odeio minhas contradições, minhas antíteses, meus eufemismos, minhas hipérboles. Odeio essa voz que grita dentro de mim e me obriga a escrever. Odeio começar a escrever e me perder em meus pensamentos, minhas palavras. Odeio essa necessidade de escrever, que me leiam, que me aceitem. Odeio ser essa “escritora” amarga, melancólica, cheia de ódios, quando o que eu mais queria era escrever sobre o amor, borboletas no estômago, passarinhos coloridos e arco-íris...
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