terça-feira, 3 de março de 2009

A escalada

Você não sabe o quanto eu caminhei
Pra chegar até aqui
Percorri milhas e milhas
Antes de dormir, eu não cochilei
Os mais belos montes escalei
(A Estrada - Cidade Negra)

O frio era cortante, ventava muito, a neblina estava baixa e uma fria garoa caía. Ainda assim subiram 5 km em uma van pela Estrada Real, e ainda não era nem o início da aventura.

Enquanto caminhava pela estrada, seus olhos se enchiam com aquele visual ainda encoberto pela neblina, já não sentia frio, mas o ar já lhe faltava nos pulmões dada a rapidez de seus passos. Então, adentrou na trilha e o contato com a natureza nunca parecera tão intenso. De repente, ali estava ele na sua frente, o Pico do Itacolomi, todo imponente com sua vegetação rasteira e grandes pedras.

E um frio tomou conta dela, mas não era o vento lá fora, era dentro dela, era o medo que tentava preencher o vazio em seu estômago. Ela respirou fundo, procurou não olhar para baixo, no precipício ao seu lado, nem para cima, para o cume ainda encoberto por algumas nuvens. Se concentrou em cada pequena pedra, em cada buraco, em cada passo.

E ela sentiu muitas dores, seus músculos pareciam ser rasgados, o ar não entrava em seus pulmões com a mesma velocidade que ela precisava, sua testa ainda doía da pancada em uma pedra. Ela pensou em desistir, acreditando que aquilo que vira até ali já era o bastante e a dor de seguir em frente não a animava continuar.

Ela ficou sentada ali na trilha, enquanto suas pernas ardiam. Lhe prometeram que o cume era logo a frente, ela se levantou e seguiu a passos trôpegos. Quando ela chegou lá em cima mal podia acreditar que tudo aquilo era real, que era possível existir tamanhã beleza no mundo.

Ela se sentou sozinha, na ponta de uma pedra e ali ficou sem palavras, observando Ouro Preto e Mariana la de cima. Desejou que todos pudessem presenciar tal cena, que seus olhos pudessem capturar cada detalhe como uma câmera. Ela jamais seria capaz de explicar aquele momento, a paz que sentia.

E quando ela desceu, após 14km caminhados, com todos os músculos doloridos, ela já não sentia aquele vazio no qual ecoavam palavras. Ela simplesmente teve um motivo para não atender aquelas ligações da madrugada, as conversas despretenciosas e os sorrisos malandros, e ainda assim ser feliz.

Um comentário:

Clarice disse...

É tão bom querer compartilhar com todos a vista, e mais que a chegada, a caminhada. Como uma perspectiva pode mudar tudo, né? E ainda assim ser feliz ...
beijos da janela